A ficha da escritora encontra-se em desenvolvimento.
Na contracapa de Terras onde se fala português, da autora, é anunciado Amor de ladrões [no prelo]. A pesquisa prosseguida até à data não permitiu verificar a sua existência.
É grande a pluralidade temática e de géneros de Maria Archer: livros infantis, novelas de cunho sentimental, romances, ensaios, crónicas, artigos, relatos de viagens, teatro e traduções.
Viveu em África (Guiné, Angola e Moçambique). Viveu no Rio de Janeiro. Entre 1910 e 1914 viveu em Moçambique, onde regressa já casada, por um período de 5 anos. Em jovem, viveu também em Guiné-Bissau e no Algarve. Divorciada, junta-se aos pais que vivem em Luanda/Angola. Aí permanece por 4 ou 5 anos. Entre 1955 e 1979, por falta de meios de subsistência em Portugal, emigra para o Brasil. A 15 de janeiro de 1956, em entrevista ao Diário de Notícias (Rio de Janeiro) diz: "Vim para o Brasil, tendo chegado dia 15.07.1955, porque já não podia viver em Portugal. A acção da censura asfixiou-me e tirou-me os meios de vida. Apreenderam-me dois livros publicados, assaltaram-me com policiais a casa e levaram-me um original que ainda estava escrevendo, violência inédita em países de civilização europeia." Citado por Battista (2015, p. 44).
Responde a: Inquérito às mulheres portuguesas. (1935, novembro 3). O Diabo, (71).:
"Fala a escritora Maria Archer:
Maria Archer, escritora e jornalista, respondendo ao nosso inquérito, começa por nos manifestar as suas impressões sobre a dificuldade de se dar uma resposta concisa e genérica a determinadas perguntas que é costume fazer-se em relação à vida espiritual das mulheres.
E diz:
MA - As aspirações da Mulher são muitas: a maior parte delas, porém, não se confessa.
O Diabo - Há certamente algumas que se impõem…
MA - Sim. Acima de tudo a Mulher deseja o reconhecimento da sua categoria de criatura socialmente humana. É que, presentemente a mulher é ainda um animal doméstico.
O Diabo - Quanto ao feminismo… Qual a sua maior preocupação?
MA - A de conseguir para a mulher a independência em todos os seus aspectos.
O Diabo - Existe a Nova Mulher?
MA - A 60.º latitude Norte, talvez os homens consintam no aparecimento deste fenómeno.
O Diabo - Que impressões possui sobre o trabalho feminino?
MA - O trabalho é sempre um meio de subsistência. Para a mulher entretanto não chega a ser isso. No futuro, o trabalho será aquilo que havemos de ver quando o futuro fôr presente.
O Diabo - Sobre o ideal pacifista na mentalidade feminina?
MA - Presentemente existe. Será sempre assim? É difícil um julgamento… A mulher não é melhor do que os homens…
Ante um sorriso, Maria Archer completa o seu pensamento:
MA - A mulher, tanto como o homem, será pacifista ou não - segundo o seu grau de civilização. É natural que a mulher hotentote não deixe tão cedo de admirar o fragor das batalhas, talvez de achar-lhe poesia.
O Diabo – Que papel representa o Amor na sociedade actual?
MA – De uma forma geral, não sei responder. Representa variados papéis, conforme os casos.
O Diabo – E no futuro?
MA – Pelo jeito que as coisas levam, desconfio que não chega até lá…
O Diabo – Houve alguma época da existência da humanidade em que a mulher tivesse sido feliz?
MA – Uma: a do matriarcado.
O Diabo – A maternidade influi na vida espiritual da mulher?
MA – Não sou mãe, nem fiz observações a este respeito.
O Diabo – E na vida social?
MA – Se a mulher é mundana – a maternidade é um tropeço. Se é uma mulher que trabalha – igualmente. Mas, neste último caso, pode ser também um incentivo para o trabalho, porque muitas vezes perdemos o gosto de viver para nós.
O Diabo – Efeitos do desenvolvimento intelectual da mulher?
MA – De princípio, um mal, porque a mulher, por seu intermédio, perde a faculdade de admirar os homens. Em relação ao lar, esses efeitos são mínimos: o lar é um campo mais próprio para manifestações afectivas do que manifestações intelectuais. Perante os filhos a intelectualidade da mãe deve forçosamente manifestar-se benéfica. Na vida social, depende do carácter dela.”